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Resenha do Artigo "O Inconsciente" (1915) de Sigmund Freud - Por Maria Eliana






A ideia de inconsciente não foi necessariamente criada por Sigmund Freud, considerando que ela já estava nos textos difundidos por filósofos, poetas, literatos e mesmo nas teorias da medicina à época, essencialmente a partir de pesquisas no campo da psicopatologia, aquelas relacionadas à neurose e histeria.

Mas foram as pesquisas desenvolvidas por Freud que produziram uma nova concepção de inconsciente, especialmente quando introduz o conceito de desejo, um elemento distinto do que já se conhecia da mente humana sobretudo pela sua autonomia quanto ao complexo aparelho psíquico, visto que, para o autor, não se trata de uma parte do consciente e sim um componente com características próprias e relevantes para a formação dos sujeitos nas suas relações com os outros e com ele próprio.

Ao estudar e explicar o inconsciente, Freud o descreve como um processo psíquico não acessado pela razão, pela consciência, mas que por sua vez está ligado a uma parte possivelmente descritiva, traduzida como pré-consciente, ou seja, aquela que não está consciente, mas está acessível com a utilização do recursos de memória e lembrança, com algum esforço concentrado do sujeito.

Pela teoria freudiana, a vida psíquica é constituída por sistemas e o inconsciente é o que compõe a subjetividade das pessoas, mas que não é acessado por sua vontade. Para ter acesso ao sistema inconsciente, é preciso vencer as resistências (censuras, defesas) que impedem que as representações que o compõem cheguem ao sistema pré-consciente/consciente – parte do processo psíquico que liga-se ao cotidiano. Freud elabora o principal método de acesso ao inconsciente – a análise por associação livre, cuja fala é o elemento pelo qual o sujeito libera os derivados do inconsciente, por meio dos quais o analista tenta interpretar as origens de suas tensões.

Freud trata esses distintos sistemas como lugares que, embora independentes, podem ter as mesmas ideias em transito simultaneamente, desde que essas ideias não sejam censuradas. A censura ocorre para que os representantes pulsionais que vivem no inconsciente e que fazem parte das memórias arcaicas de cada história, sejam impedidas de entrar no pré-consciente e, com conseguinte, no consciente, em função de alguns fatores psíquicos, notadamente aqueles que causam conflitos.

Freud desenvolve uma lógica de funcionamento do aparelho psíquico, atribuindo-o uma topografia psíquica, cuja teoria tenta explicar de forma inteligível o fenômeno do inconsciente, uma vez que anatomicamente essa explicação seria impossível.

Essa proposta de uma lógica ou organização do aparelho psíquico descreve os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente, com barreiras entre elas. Essas barreiras existem para fazer a defesa contra os desejos inconscientes. A diferença primordial entre os sistemas é que no sistema pré-consciente/consciente as representações se organizam de forma encadeada, onde se produz comunicação, fundamentalmente com uso da palavra/linguagem.

Já no sistema inconsciente, derivam as pulsões (desejos), organizam-se as memórias arcaicas que marcam a subjetividade, porém esses elementos são como “coisas”, cuja compreensão só pode ocorrer por associação com outras representações, culminando com o aparecimento dos derivados do inconsciente, como por exemplo o ato falho, os equívocos, o duplo sentido, os chistes ou os sonhos – objetos de apreciação do analista.

Outros esquemas também estão aplicados à topografia psíquica, como a formação dos processos de afetividade e sua relação com as fobias, assim como o fenômeno da repressão que atua na dinâmica do processo psíquico, afetando as ideias na fronteira entre os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente. A teoria ainda enfatiza as ocorrências de transição ou modificação das energias – catexias e os processos de resistências a elas – anticatexias.

Ao propor esse entendimento do aparelho psíquico, cabe dizer que o inconsciente está essencialmente ligado às ideias de repressão das representações que estão associadas aos desejos com os quais o consciente não pode lidar. Sendo assim, essa primeira tópica e todos os conceitos que ela traz causam considerável impacto não só nos processos clínicos de intervenção na vida psíquica dos pacientes, mas também na vida cultural e histórica ao colocar a vida psíquica determinada por uma instância diferente do consciente, cujo acesso não é alcançado por vontade própria do sujeito, mas por processo analítico com uma serie de prerrogativas que com o tempo possibilitam a este sujeito lidar com sua própria história e os impactos que os fatos da vida pregressa causaram sobre os acontecimentos vigentes. 

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