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O Relacionamento Amoroso Chegou ao Fim: Quem Sofre Mais? Por Rosa Coelho Costa



RESUMO

A separação amorosa é vivida como uma experiência de morte em vida, na qual o indivíduo

precisa passar pelo processo de luto para que dê sentido à perda. Esta pesquisa teve como objetivos principais compreender e analisar o processo de luto diante da separação amorosa, sob uma perspectiva psicanalítica. Você já se perguntou quem mais sofre com o término de uma relação? Há quem diga que são as mulheres, e até usam artistas e seus trabalhos para justificar tal pensamento. Como as obras da cantora pop americana Taylor Swift, que falam sobre relacionamentos. Ou as letras da eterna Rainha da Sofrência, Marília Mendonça, que detalhou “depressão pós-término traumático”. Diante do fim de um relacionamento romântico, as mulheres tendem a sofrer mais do que os homens.  Logo após o fim de um relacionamento, as mulheres são as mais atingidas. Mas em longo prazo, os homens sofrem mais. E eles podem nunca superar a dor de uma separação. Levantamos a hipótese de que o sofrimento, ocasionado pelo fim do relacionamento, gere como defesa o distanciamento de outro que poderia vir a ser um novo objeto de amor. No processo de elaboração do luto é possível introjetar as partes boas do objeto amado, que são integradas ao Ego. Dessa forma, os aspectos bons passam a fazer parte do sujeito, que pode aceitar a perda. Destacamos que mais estudos se fazem necessários sobre a temática específica. 

Pаlаvrаs-chаve: Relacionamento, Homens, Mulheres, Dor física e emocional.

 

Introdução

            As relações amorosas são uma parte importante da nossa vida e idealmente fazem com que nos sintamos mais realizados e mais felizes, no entanto, nem sempre tudo corre bem. Quando as coisas correm mal, quem sofre mais com o fim da relação? Vamos descobrir!

            Após o fim de uma relação, o sofrimento pode variar significativamente de pessoa para pessoa, sem ligação direta com o gênero, uma vez que essas relações podem ser influenciadas por uma série de fatores como personalidade, estilo de vida, apoio social e a capacidade de lidar com a perda.

             São diversas as razões que levam ao fim de uma relação amorosa. Os interesses mudam, os objetivos de vida diferem, a idealização feita acerca do outro não corresponde à realidade, entre muitos outros motivos. Independentemente das razões, são vários os casais que se questionam se vale a pena continuar a investir na relação a dois ou se o melhor é mesmo cada qual seguir o seu rumo.

              A percepção de que a relação amorosa não tem salvação nem sempre chega em simultâneo a ambos os elementos do casal. Habitualmente, uma das pessoas sente primeiro que o sofrimento vivido em conjunto é superior ao que sentiria com o fim do relacionamnto.

            Para entendermos a vivência do processo de luto de um indivíduo que passa por uma separação e perda do objeto amado, é necessário compreendermos como se deu tal escolha amorosa. Partindo de uma perspectiva psicanalítica, a escolha objetal caracteriza-se como “ato de eleger uma pessoa ou um tipo de pessoa como objeto de amor” (Laplanche & Pontalis, 1998, p. 154).

            Freud (1914/2004) apontou para dois possíveis tipos de escolhas objetais: anaclítica (ou de apoio) e narcísica. A escolha anaclítica se dá a partir da relação estabelecida entre o bebê e seu cuidador. Inicialmente, as pulsões sexuais estão apoiadas nas experiências de satisfação primária, com propósito de autoconservação das funções vitais que são providas pela mãe, sendo ela o primeiro objeto sexual do lactente.

            Na vida adulta, a retomada dessas escolhas é uma forma de reencontro com o objeto da infância. Dessa forma, na escolha analítica, toma-se como objeto de amor o homem protetor ou a mulher que nutre. Já a escolha narcísica ocorre quando o indivíduo tem a si mesmo como modelo da relação, pautado no que foi, no que é ou no que gostaria de ser. São indivíduos que de certa forma buscam a si mesmos como objeto de amor.

     Ferreira (2010) diz parecer que os indivíduos atribuem aos parceiros o poder de satisfação de seus desejos e prazer. Atualmente, é comum a queixa de estar sozinho junto a reclamações de superficialidade, visto que o amor romântico continua como ideal a ser alcançado como forma de completude. Em dias nos quais tudo deve ser rápido e fácil, o amor é algo raro, pois as pessoas não encontram tempo para construir uma relação (Rios, 2008).  

   Assim como propôs Bauman (2004), a modernidade líquida apresenta relacionamentos flexíveis e laços frouxos, havendo dificuldade na criação de vínculos. Muitas vezes, procuramos envolvimento para fugir da fragilidade, da solidão. Aconteça como acontecer, a partir do momento em que se constitui o vínculo e que tomamos o objeto como amado e significativo, haverá algum tipo de luto, caso a perda ocorra.

             Com o fim de um relacionamento, os homens podem até seguir em frente mais rápido. Às vezes falam de seus sentimentos, e às vezes se calam. E é justamente essa educação patriarcal que, paradoxalmente, os faz sofrer mais.

                Estudos dizem que essa diferença se deve ao fato de que uma mulher investe mais em um relacionamento do que um homem. Um breve encontro romântico podia levar a 9 meses de gravidez seguidos de muitos anos de lactação para uma mulher ancestral, enquanto o homem poderia 'deixar a cena' literalmente alguns minutos depois do encontro, sem nenhum investimento biológico adicional. É este 'risco' de maior investimento biológico que, ao longo da evolução, fez as mulheres mais exigentes para escolher um companheiro de alta qualidade. Por isso, a perda de um relacionamento com um companheiro de alta qualidade 'dói' mais para uma mulher (Macedo, 2024).

                Apesar disso, segundo os pesquisadores, as mulheres tendem a se recuperar mais completamente e sair da situação mais fortes emocionalmente do que os homens, que podem nunca se recuperar de forma plena. "Os homens provavelmente sentem a perda profundamente e por um longo período de tempo, enquanto eles se dão conta que precisam começar a competir de novo para substituir o que perderam - ou ainda pior, chegarem à conclusão que a perda é insubstituível", diz o pesquisador Macedo (2024). 

            Freud (1917/2006), em seu artigo Luto e Melancolia, definiu o luto como uma reação à perda do objeto amado ou a abstrações que poderiam tomar seu lugar, caracteriza-se por um processo que ocorre gradativamente e gera dor. À medida que o teste da realidade mostra que o objeto foi perdido, é necessária a retirada de toda libido investida em tal porém isso não ocorrerá de maneira imediata.

            A cada lembrança do objeto, este será superinvestido de energia, até que, de maneira vagarosa, esse trabalho poderá se completar, deixando o indivíduo livre para investir energia em outro objeto. O enlutado apresenta grande desinteresse pelo mundo exterior (com exceção de tudo que recordar o objeto perdido). “No luto o mundo tornou-se pobre e vazio” (Freud, (1917/2006, p.105).

              A separação amorosa pode ser vivida como um tipo de morte entre os vivos, pois foi necessário matar o outro dentro de si. Além de perdermos o objeto amado, também perdemos o significado que depositamos nele, como a perda de uma parte do ego. Os sentimentos e emoções são vividos de forma exacerbada e ambivalente.

            O processo de luto deve aparecer diante da separação, podendo tomar vários caminhos, desde a elaboração da perda e retomada dos processos cotidianos da vida até uma desorganização psíquica, podendo tornar-se patológica (Kovács, 1996).

              Assim como afirma Parkes (1998), uma perda traz outras perdas secundárias. Os indivíduos se deparam com a necessidade de reestruturar papéis e funções, mudar a rotina, lidar com o que não está mais presente, encontrando um limite e a sensação de desamparo.

              As investigações mostram ainda que o divórcio parece provocar maior mal-estar físico (associado às mudanças de estilo de vida; as mulheres encorajam comportamentos saudáveis aos maridos) e psicológico aos homens. Mais ainda, os homens parecem ser mais propensos do que as mulheres a desenvolver uma tendência suicida após uma separação. Por fim, diante de uma sociedade que busca a felicidade a qualquer preço, negar a dor é mais fácil que lidar com os sentimentos difíceis.

             COMO CONCLUSÃO…

            Apesar de vários estudos se debruçarem acerca de quem sofre mais com o fim da relação e da maioria deles apontarem as mulheres e outrora os homens, a verdade é que o fim de uma relação a dois é difícil para todas as pessoas. Quer homens, quer mulheres.

              Os homens parecem apenas receber menos suporte por parte da família e dos amigos, provavelmente porque procuram menos esse apoio, o que faz com que sofram de forma mais intensa com o fim da relação.

 

REFERÊNCIAS

 

 

 

 

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

 

Ferreira, E. P. (2010). A separação amorosa: uma abordagem psicanalítica. Psicanálise & Barroco em revista, 8(1), 56-97. Recuperado em 06 de junho, 2016, de Recuperado em 06 de junho, 2016, de http://www.psicanaliseebarroco.pro.br/revista/revistas/15/p&brev15ferreira.pdf

 

Freud, S. (2006). Luto e Melancolia. In Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente (Hans, L. A., trad., Vol. 2, p.99-122). Rio de Janeiro: Imago Ed . (Original publicado em 1917).

 

Kovács, M. J. (1996). A morte em vida. In M. H. P. F. Bromberg, M. J. Kovács, M. M. M. J. Carvalho, V. A. Carvalho (Orgs.), Laços da Existência. São Paulo: Casa do Psicólogo .

 

Parisi, S. (2012). Amor e separação: reencontro com a alma feminina. São Paulo: Vetor.

 

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. (1998). Vocabulário de psicanálise (3a ed.). São Paulo: Martins Fontes .

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