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A Psicanálise é uma Ciência? Por Danilo Farias

A psicanálise ao longo da sua história sempre dividiu opiniões, existindo aqueles que concordaram e defenderam seus postulados, bem como aqueles que duvidaram e a colocaram no campo de uma pseudociência como a microbiologista Natalia Pasternak.

Mas afinal, o que é ciência? A psicanálise deve ser vista como uma ciência? E qual a importância de atribuirmos esse caráter científico a ela? Essas perguntas são de suma importância, pois elas nos ajudarão a compreender qual é o seu método, objeto de estudo, e resultados.  

O Dicionário da Língua Portuguesa (2001) conceitua ciência como um “conjunto dos conhecimentos exatos, universais e verificáveis, expressos por meio de leis, que o ser humano tem sobre si próprio, sobre a natureza, a sociedade, o pensamento”. Mas o que diferencia a ciência do senso comum é o método utilizado para se chegar a esse conhecimento exato do universo.

Quando falamos do método científico positivista, falamos de uma ciência que “deve ter proposições claras onde se possa predizer todo tipo de ocorrência de fenômenos” (Medeiros, 2012, p. 23), a Psicanálise não permite isso. Logo, teríamos dificuldade de lhe atribuir esse status científico utilizando esse método. Afinal, qual o método usado na psicanálise?

Mezan (2007) argumenta que a psicanálise se fundamenta na observação. Ele aproxima o trabalho psicanalítico de Freud ao trabalho da evolução de seleção natural de Darwin, pois mesmo não podendo ser provada pelo positivismo científico, há uma convicção que aquilo deve ser verdade, e sua veracidade está na consistência argumentativa da hipótese central.

Em outras palavras, a teoria freudiana se encontra no campo das ciências naturais, isso porque uma das suas regras é a ausência do método experimental, pois o seu objeto é imaterial (Mezan, 2007). Podemos notar isso, na seguinte afirmação:

O método de investigação é uma estrutura aberta, em função da heterogeneidade de fontes, pela diversidade de meios e pela comunicação com outros discursos e estratégias de investigação. Nesta metodologia investigativa, é sustentada a temporalidade da escrita, já o método de tratamento exige regras próprias ao universo verbal da fala. A ligação entre os dois métodos localiza a peculiaridade epistemológica da Psicanálise de ser, ao mesmo tempo, uma forma de discursividade e uma ciência (Silva e Macedo, 2024, p.522).

Sendo o seu objeto a linguagem, podemos identificá-la como imaterial, pois surge do inconsciente. É justamente a partir dos atos psíquicos que temos uma teorização que gera os conceitos e as classificações de fenômenos que validam o seu plano de investigação, tornando-se semelhante às outras ciências humanas (Mezan, 2007). Não considerá-la dentro das ciências humanas é não compreender a reflexão que ela propõe. Vejamos:

Quando se diz que a psicanálise não é uma ciência, há um desentendimento da produção das Ciências Humanas. E, mais grave, quando se fala que a psicanálise é uma pseudociência, coloca-se a ideia de que seus efeitos são calcados em coisas mágicas e misteriosas, que não tem a ver com a reflexão que a própria psicanálise propõe (Barrucho, 2024, n.p).

Agora que encontramos o lugar da psicanálise na ciência, entendendo seu método e objeto, é importante destacarmos o seu resultado. Segundo Zuanella apud Barrucho (2024), a psicanálise tem mostrado sua eficácia não partindo de dentro do laboratório, mas de dentro do sujeito. Segundo Nasio (2019, p.12) a psicanálise mostra sua efetividade quando alguém é curado e “consegue amar-se tal como é”.

Assim, podemos concluir que não estamos tratando de uma pseudociência e devemos considerar que ela possui seu método e objeto de investigação, sendo capaz de apresentar resultados sobre o ser humano e a sociedade. Por isso, os psicanalistas devem atuar com zelo e dedicação nunca se afastando do estudo sério e comprometido da teoria psicanalítica.

 

 



Referências

Nasio, Juan-David. Sim, a psicanálise cura!; Tradução Eliana Aguiar; Rio de Janeiro: Zahar, 2019.

Mezan, Renato. Que tipo de ciência é, afinal, a Psicanálise?. Revista natureza humana. Julh.dez.2007.

Barrucho, Luís. Psicanálise é pseudociência? A polêmica que divide opiniões há um século. Disponível: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c90vjnlv97do. Acesso: 29.03.2024

Medeiros, Roberto Henrique Amorim. A Psicanálise não é uma ciência. Mas, quem se importa?. Revista: Psicologia: Ciência e Profissão. 2012.

VV.AA. Dicionário da Língua Portuguesa: Academia das Ciências de Lisboa. Disponível: https://dicionario.acad-ciencias.pt/pesquisa/?word=Ci%C3%AAncia. Acesso: 29.03.2024.

da Silva, Clarice Moreira; Macedo, Mônica Medeiros Kother. O Método Psicanalítico de Pesquisa e a Potencialidade dos Fatos Clínicos. Revista: Psicologia: Ciência e Profissão Jul/Set. 2016 v. 36 n°3, 520-533.  DOI: 10.1590/1982-3703001012014.

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